terça-feira, 8 de novembro de 2016

Poetas Da Bruzundangas - Clube de Poetas Negros * Antonio Cabral Filho - Rj

Cartão Postal homenageando
Isaias Caminha
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Clube De Poetas Negros
-Capa da 1ª edição-
- Os Poetas Da Bruzundangas! 
-Capa da 1ª edição-
É nossa forma de homenagear Lima Barreto, torná-lo patrono de alguma coisa, ainda que virtual. E resgatar essa expressão tão peculiar à rejeição que os poetas causam em toda sociedade. Bruzundangas: é justamente lá em Bruzundangas que os poetas tem de vicejar. É justamente em terras carcomidas pelo caos burguês que a semente revolucionária da libertação tem que ser semeada. Lima Barreto fez isso, só isso, em sua tão curta vida, apenas 41 anos. Portanto, ao contrário de Manuel Bandeira, que refugiou-se à alienação em Pasárgada, Lima nos convida ao combate sem tréguas a todo tipo de exploração e baixaria próprios das Bruzundangas, sem temer nenhum tipo de excludência, sequer "platônica...." E para reunir poetas "bruzundanguenses", criamos até um blog
https://poetasdabruzundangaetc.blogspot.com.br/ 
- Capa da 1ª edição -
Foi com Lima Barreto que a rebeldia negra chegou ao texto literário com o devido reconhecimento. Ninguém duvida disso, pois até aí, até ao Lima Barreto, todo escritor negro era tratado como um pobrezinho marginalizado e só, mais nada, uma vez que as dificuldades para ele ser um sucesso eram tão grandes que a repressão suspirava em céu de brigadeiro, segura de que aquele seria só mais pobre coitado... 

Mas com o Lima foi diferente. Lima Barreto não se conteve ante essa barreira e provou isso ao tempero do próprio suor, quando procurou editor para seu segundo romance, o Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, que retrata os bastidores da imprensa daquela época, e só ganhou portadas na cara.

Nessa época, Lima Barreto já era considerado um escritor promissor, devido ao sucesso do Triste Fim de Policarpo Quaresma. Mas graças ao conteúdo, de crítica social, o empresariado livreiro ficou receoso de bancar o livro "daquele preto metido a intelectual", desordeiro com discursos radicais nos lançamentos e saraus da cidade maravilhosa do início do século xx. E foi aí que Lima Barreto acabou por ser publicado por iniciativa de Monteiro Lobato, o primeiro empresário-editor a promover a literatura de esquerda no Brasil.

Desde então, a literatura negra ganhou status no texto literário e a sua marca leva o nome de Lima Barreto, ao contrário de Machado de Assis, que além de nunca ter promovido a negritude, ainda serviu de capitão do mato contra todos os rebeldes das letras no seu período áureo, quando capitaneou a fundação do seu mausoléu 
"Academia Brasileira de Letras".
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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Terra de Negros * Oliveira Silveira - Rs

Oliveira Silveira

Terra de Negros

Terra de negros
terra de engenhos
negro moendo
cana escorrendo
suor amargando
terra de minas
negro cavando
outro sorrindo
(ouro dos outros)
terra café
cacau e milho
negro plantando
negro colhendo
esperanças renascendo
terra de estância
charqueada grande
negro se salgando
terra quilombo
choça e mocambo
negro lutando
e resistindo
se libertando
terra xangô
tambor de mina
e candomblé
linha de umbanda
batuque e samba
macumba e negro
reza-dançando
terra congada
maracatu
reisado e negro
representando
terra comida
pratos baianos
quindim quitutes
negro fazendo
terra capoeira
rabo-de-arraia
negro golpeando
terra favela
morro e miséria
e negro nela
(breque) até quando?
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domingo, 6 de novembro de 2016

Canto A Ilu - Ayê * Antonio Cabral Filho - Rj

Canto A Ilu - Ayê


Negro é raiz da liberdade
Mais forte que qualquer outra
E faz nosso povo se unir
Hoje muito mais que outrora.
Porém, os chacais que o rondam
Ainda encontram lacaios
Contra o nosso porvir,
Pois quem nasceu para Judas
Não se cansa de trair.

Ilu-Ayê tem o sorriso negro
Pra fortalecer meus irmãos
E regar a flor da resistência
Desde a grimpa dos morros
Até a vereda mais úmida
Em prontidão na tocaia
Para emboscar bate-estradas
E avisar aos capatazes
Que quem brinca com corda
Acaba dependurado.

Ilu-Ayê tem o abraço negro
Pra fortificar os quilombos
E multidões de Zumbis
Com suas bandeiras erguidas
Pra celebrar nosso Rei,
Que deu seu sangue por nós
E merece glória eterna.


Ao cismar sozinho relembro
Que todo instante da vida
É sempre vinte de novembro
Com a dignidade iluminada
E o espírito pleno de Axé.

Pois nossa pele tem mais sol,
Nosso céu tem mais luar,
Nosso povo tem mais força
Quanto mais doar amor.

Não permita deus que eu morra
Sem que ainda faça um poema
Com maior engenho e arte
Que exalte Rainha Dandara,
Zumbi e Solano Trindade
Com uma imensa quizomba
Para alegrar nossa raça
E cantar pra Ilu-Ayê. 
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Perfil do Autor
http://acf1408.blogspot.com.br/ 
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